CAFÉS, LIVROS & inDELICADEZAS
Livros pra alimentar a alma, café pra aquecer o coração, delicadezas, porque toda arte é suave, e verdades, porque mesmo que doam, todo mundo precisa delas.
segunda-feira, 11 de março de 2019
Ela era de brinquedo?
Olha é ela!
Veste de rosa. Enche de flor. Mostra que um dia vai ter que ser mãe.
Tá crescendo!
Os olhos brilham, vai dar trabalho.
Não tem vaidade, ninguém vai querer.
Batom vermelho, deve tá querendo.
Com cabelo assim, deve ser machorra, alguém tem que ensinar o que é bom.
Emagrece.
Engorda.
Alisa.
Encrespa.
Se molda.
Se aceita.
FAZ O QUE EU MANDAR!
Tá na hora de casar.
Não vai parar de estudar nunca?
Tá na hora de ser mãe!
Quem vai cuidar de ti?
Tá na hora de ter outro!
Tem horas que só mãe resolve.
Como assim, vai por o peito pra fora na frente de todo mundo?
Volta a trabalhar, tem que sustentar os filhos.
Para de trabalhar, tem que educar os filhos.
PARA!
Toma aqui tua flor, parabéns pelo teu dia.
Parabéns por tá viva.
Parabéns se tu grita.
Porque a dor, da palavra e da mão forte, já calou tantas.
segunda-feira, 19 de novembro de 2018
Menina X
Era uma vez...
a luz apagada nos olhos da Menina X, que se acendeu quando
ela assistiu uma palestra na escola e decidiu que queria ser assistente social
para ajudar os outros, ajudar sua mãe, ajudar a si.
Menina X falou com a professora, falou com a Mãe X, falou
com uma senhorinha de cara boa e todas disseram: estuda Menina X, faz teu
futuro, se faz feliz.
Menina X era inteligente e passou a estudar mais. Não tinha
dinheiro, mas atravessava a cidade pra ir na biblioteca quando não estava na
escola.
Um dia, na biblioteca, conheceu o Menino X. Bonito, amável,
inteligente, ajudou ela a estudar. Menina X se encantou e o Menino X falou que
ela não precisava se preocupar, que ele ia se proteger, que ia proteger os
dois, mas depois desapareceu, deixando a maior lembrança que podia.
Menina X teve que ir sozinha contar pra Mãe X que tinha
sido só uma vez, que confiou, que achou que sabia amar, mas que agora ia
trabalhar, que se a Mãe X ajudasse, ela ainda ia realizar.
Menina X pariu, amamentou, trabalhou, voltou pra escola, passou
na prova pra faculdade.
- Com bolsa Mãe X, não vou precisar pagar.
Que alegria aquele dia, que orgulho pra Mãe X, que já tava
mais velha que devia, mas ainda dava pra amparar o Bebê X enquanto a filha tentava
melhorar a vida deles.
Menina X ficou até mais tarde organizando os produtos no
mercado no do Seu Y, de onde tirava o sustento. Ia precisar mais dinheiro, a
bolsa pagava o curso, mas não pagava os livros nem o ônibus.
E fez calor suficiente pra saia ir até o joelho, pra blusa
ajustar no corpo, pro Seu Y se achar no direito.
Menina X correu pra casa da amiga que lembrou que ela
precisava do emprego, que disse que ninguém ia acreditar, que Seu Y era de
família e ia todo domingo na igreja.
Menina X se calou, abaixou a cabeça, passou calor, passou vergonha,
o medo não passou, mas o mês passou e o sangue não desceu.
Menina X falou com a amiga, que disse que a senhorinha de
carinha boa, da rua de traz, fazia tricô, que tricotava bebê também.
Menina X não queria, mas a mãe já não podia ajudar mais,
ainda tinha o Bebê X, ainda tinha a chance que não podia passar, ainda tinha a
dor de como aquilo aconteceu, ainda tinha aquele medo que não deixou denunciar,
ainda tinha o Seu Y que era pai de família e ela que já tinha feito filho na
adolescência (VADIA).
Chorou 5 noites, mas não tinha opção.
Foi no ateliê da senhorinha de cara boa, que foi tricotar o
bebê, pesou a mão e furou a tripa.
O sangue correu mais que todo mundo queria.
O feto não desenvolveu; a senhorinha de cara boa ficou sem
ateliê; o Bebê X ficou sem mãe; a Mãe X ficou sem sustento, sem acreditar, sem
Deus, sem sua menina; a amiga ficou com culpa; o Seu Y era homem de família,
fraquejou por causa blusa justa, mas nem tinha a ver com isso.
Seu Y ficou.
Menina X não ficou. Até o fim perdeu sangue, perdeu os sonhos,
perdeu o emprego, perdeu a bolsa, perdeu a vida.
Se fosse legalizado, ela teria ido no médico, ela teria tido
apoio, ela teria tido aconselhamento, talvez ela até teria tido outra escolha.
Mas tudo que ela teve foi dor, medo, solidão e...
fim.
terça-feira, 25 de setembro de 2018
Uma flor no teu olhar
Cadê o brilho desse olho menina?
Cadê teu espelho de princesa pra dizer que tu é a mais linda de todo esse
reino?
Põe flores no
meio do campo verde da tua alma.
Não sei se tu sabe de
tudo que tu faz aqui dentro, de tudo que tu faz lá fora. Nem sei se sei te dizer.
Olha todo o
brilho que tu colocou no teu mundo, um brilho que fez teu mundo melhor pra ti e
pros outros.
Olha o brilho
que tu colocou na minha estrada. Cada palavra que tu disse e que me pôs num palco
que eu não fazia ideia de que podia subir.
Olha o teu
brilho menina, dessa menina que enrubesce quando mostra que é mulher.
Será que não
te basta toda alma que tem aí dentro, que nem sei como cabe nessa caixa de
boneca.
Então olha
essa porcelana que tu chama de pele, olha esse olhar que o que tem de apertado
tem de generoso.
Não me entenda
mal, mas olha essa curva que faz teu corpo pequeno e a curva ainda mais linda
que faz esse teu sorriso.
Mas de todas
as tuas qualidades menina, tem uma que me mata de saudade, que faz ele te amar,
que faz com que eu te ame, que faz com que qualquer um te ame.
Se tu
pudesse te abraçar...
sexta-feira, 24 de agosto de 2018
Para de se cortar
Olha aquele cristal, inundado de sal, fazendo brilhar mais ainda o rosto dela.
Será que ela não vê que isso não se faz?
Será que ela não vê que o que muda assusta mesmo?
Será que ela não vê que se cortar só faz doer mais?
O moça, ninguém corta as pernas pra não esfolar os joelhos. Além disso, você nem sabe se vai mesmo cair.
Você é só você moça, e não a estrada que te trouxe até aqui.
E se você não fosse cair? Você não ganha nada em se mutilar assim.
Vê bem moça, que se você cortar as pernas fora, além de não ter a delícia de andar nessa estrada, você mesma se derruba e faz doer.
O moça, não tem medo não, que se tu cair, eu tô bem aqui, e tem mais gente também pra te dar a mão, te dar o ombro, te dar os braços.
O moça, não precisa correr não, que eu sei que dá mais medo, mas caminha na tua estrada, que tu sabe mais que ninguém, que é melhor doer porque tu andou, que doer porque tu ficou parada.
sexta-feira, 17 de agosto de 2018
Um sorvete e uma taça de vinho
Para tudo que tá te destruindo, agora.
Ou não para, vai com calma, que faz tempo que você tá
tentando, mas o mundo todo tá te atrapalhando. Sim. Até mesmo os que estão
tentando te ajudar, porque eles mesmos podem estar tentando enquanto você não
vê.
Eu assisti um a um vídeo de uma psicóloga, que fez com que
alguma coisa aqui dentro se movimentasse. Algo que encaixou com alguma coisa
que a terapia me trouxe, que encaixou com alguma coisa que a vida me trouxe,
que encaixou alguma coisa que uma amiga viveu, que encaixou com alguma coisa
que eu percebi olhando pra alguma menina na rua, porque no fim, tudo é assim,
tudo se encaixa.
Se você acha que agora tá no caminho certo, parabéns, porque
pra quase 100% das pessoas, a vida é uma grande frustração. Se você realmente
acredita que tá tudo perfeito agora, você tá errado, ou você é um ser humano
premiado na face da terra, ou você enlouqueceu.
Para de se odiar por isso, ou só para de se sentir obrigado
a achar que tá tudo bem. Para de achar que você tem que amar lavar a louça
porque é sinal de que você teve o que comer; para de achar que você tem que
amar cada coisinha na sua vida; para de achar que você tem que amar o que vê no
espelho (porque as estrias que a gravides me deu são prova desse amor, ou
porque a barriga que a cerveja me deu é prova de que eu curti a vida).
Apenas pare.
O contrassenso que a gente vê por aí chega a dar um nó na
cabeça, mas principalmente no coração e no estômago.
De um lado, o padrão que a sociedade impõe e que muda a cada
ano, delimitando tudo entre o entre os manequins 36 e 38, pra deixar tudo mais difícil.
De outro, uma nuvem que vem dizendo: se aceita e se ama como você é, porque
você é linda assim.
O problema tá no meu manequim 44, tá em mim que olho no
espelho dizendo que tá tudo bem enquanto o que quero mesmo é pelo menos me
aproximar do padrão, já que eu sei que a minha bunda é grande e o 40 vai entrar
rasgando mesmo que eu seque, porque com 12 anos eu já usava esse tamanho, e sempre
sobrava na cintura, mas menor que isso não passava na minha coxa.
O problema tá em tanta gente que usa manequim 40 e não admite
isso, e acha um absurdo que uma coxa encoste na outra, e acorda às cinco da manhã
pra ir pra academia, enquanto posta que tá pago, reza pra gordura (que deve ser
a oleosidade da pele) sair e diz que a gente tem que se aceitar mesmo sendo
gordinha.
Para. Você não é um pedaço de pano. Uma coisa é você usar
vestido longo num verão e short jeans no outro, outra coisa é usar sutiã 50 num
ano e 42 no outro, simplesmente não dá pra se adaptar ao que as revistas ditam.
Calma. Você não precisa aprender a amar os defeitos que você
tem, você precisa aprender que você não é obrigado a amar esses defeitos, e
descobrir o que é que você precisa arrumar na sua casa, e o que falta na sua
mobília, e como você pode completar e organizar o que der, e como você pode
conviver com o que não puder ter.
Vai devagar. E entende que o caminho dói sim, que é difícil
aprender a viver com as faltas que a gente tem, pelo simples fato de que muitas
vezes a gente nem sabe o que tá faltando e vai tentando ocupar o espaço com
qualquer outra coisa que encaixa ali.
Eu não sei o que você está esperando, que falta você tem. Eu
nem sei o que eu tô esperando, mas eu sei bem que não adianta correr pra tentar
arrumar as coisas, eu só não sei como a gente faz pra saber lidar com isso. Mas
enquanto eu tento descobrir, eu vou ficar aqui, com a minha terapia, um sorvete
e uma taça de vinho.
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