quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Brincando com Lágrimas



 


        Clarisse se debruçou sobre a pia e começou a derramar grossas lágrimas, contando uma a uma.
        Analisava cada uma delas rolando, levando consigo rajadas do hábito negro que levava sempre nos olhos. Via na neblina de cada lágrima aquela dor que transbordava de seu ser.
        Havia decidido dar um tempo àquilo que de melhor tinha escolhido viver, desistiu de tudo que tinha por sentir que estava sendo o pior para o que tinha de melhor.
        Por cansar de ferir, Clarisse feriu-se, decidiu que preferia que aquela dor que sentia transbordasse toda de uma só vez.
        Clarisse transbordou tudo que tinha. Transbordou alma e banheira, afiou espírito e lâmina, e deitou-se em seu lençol úmido de dor.
        Tocou aquelas lágrimas nubladas, provou seu sal e seu amargor, em todo o sabor daquele sofrer.
        Com o fio da última angústia, fez escorrer a vida que pensava que não tinha, e viu fugir de dentro de si a cor da paixão que não sabia ser tão correspondida.
        Fechou os olhos para a escuridão que deixou, para o tudo que tinha e de que fugiu.
                                                                                                

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